A essa altura do campeonato, falar que o MCU está desgastado é como dizer que água é molhada. O auge passou, os heróis mais carismáticos já se aposentaram (ou morreram dramaticamente), e até a bilheteria anda dando sinais de fadiga. É nesse clima de ressaca que surge Thunderbolts*, um filme que não tenta esconder o cansaço: pelo contrário, transforma o próprio esgotamento em piada.
O problema? Fazer sátira do buraco em que você mesmo se enfiou pode ser engraçado, mas raramente é heroico.
O que é Thunderbolts*?
Na trama, Valentina Allegra de Fontaine (Julia Louis-Dreyfus, deliciosa como sempre) decide fabricar um “Novo Vingador” obediente e vendável. Só que antes precisa limpar a sujeira de suas operações ilegais, eliminando as pontas soltas — leia-se: Yelena Belova (Florence Pugh), Bucky Barnes (Sebastian Stan), John Walker (Wyatt Russell), Fantasma (Hannah John-Kamen) e Treinadora (Olga Kurylenko).
É o clube dos renegados: personagens que ninguém levava a sério, agora reunidos para provar que até sobras do MCU ainda podem render uma trama.
Meta-filme ou autoajuda corporativa?
Escrito por Eric Pearson (Thor: Ragnarok) e Joanna Calo (O Urso), o roteiro joga limpo: o MCU está velho, cansado e cinzento. O truque é assumir isso na cara dura, transformando o longa em uma espécie de ensaio metalinguístico sobre o desgaste do gênero.
O dilema é claro: Thunderbolts* quer ser autocrítico e moderno, mas soa, às vezes, como terapia de grupo da Marvel tentando se perdoar pelos últimos fracassos.
Yelena Belova: a âncora que salva
Se o filme não afunda de vez, é graças a Florence Pugh. Sua Yelena Belova já tinha conquistado fãs em Viúva Negra e Gavião Arqueiro, e aqui ganha o posto de protagonista moral. Pugh tem carisma para dar e vender, sustentando o filme mesmo quando o roteiro vacila.
Bucky Barnes até tenta ser sombra de protagonista, mas fica no mesmo eterno drama existencial. O resto da equipe não passa de colagem de figuras descartáveis tentando ter química cômica. Funciona em alguns momentos, mas é fogo de palha.
Direção sem identidade, cinza sem graça
O diretor Jake Schreier (Treta, Cidades de Papel) é mais um soldado obediente de Kevin Feige: cumpre ordens, entrega produto e some nos créditos. Não há impulso estético, não há assinatura.
A fotografia de Andrew Droz Palermo (O Cavaleiro Verde) insiste nos cinzas que já viraram marca registrada do MCU cansado. As cenas de ação, editadas no piloto automático, passam sem impacto. Até a trilha do Son Lux (que brilhou em Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo) fica perdida tentando dar peso a imagens que não sustentam gravidade alguma.
A comparação que dói
O filme até tenta repetir a fórmula de Tudo em Todo Lugar: personagens perdidos no niilismo encontrando propósito na comunidade. Mas enquanto os Daniels entregaram poesia multiversal, Thunderbolts* serve versão micro-ondas.
A comparação é cruel e só reforça o que já sabemos: a Marvel quer parecer ousada, mas continua refém da fórmula.
Thunderbolts*: truque ou confissão?
No fim das contas, o que Thunderbolts* faz é admitir: “a saturação era inevitável, não é culpa nossa”. Só que é, sim. O MCU construiu a máquina que espremia cada centavo de seus heróis e agora tenta rir do resultado para não chorar na bilheteria.
É engraçado em alguns momentos, relevante em outros, mas nunca essencial. Parece mais um ensaio de expiação do que um filme que de fato queira reinventar o gênero.
Por que Thunderbolts* divide opiniões?
Quem vai gostar:
Fãs de Florence Pugh e Yelena Belova.
Quem aprecia sátira leve sobre o MCU.
Espectadores que só querem mais Marvel, mesmo em piloto automático.
Quem vai odiar:
Quem espera ação memorável (não tem).
Quem já cansou dos tons cinzentos e diálogos metalinguísticos.
Quem ainda guarda carinho pelo MCU da Era de Ouro.
O veredito
Thunderbolts* é um filme curioso, engraçadinho em sua autocrítica, mas covarde na hora de realmente se reinventar.
Funciona como sátira tímida, não como blockbuster memorável.
Se a Marvel queria rir de si mesma, conseguiu. Se queria salvar o gênero, vai precisar de muito mais do que piada interna.