Thunderbolts: A Terapia de Grupo do Universo Cinematográfico Marvel
A essa altura do campeonato, falar que o Universo Cinematográfico Marvel (UCM) está desgastado é como dizer que o Brasil tem muitos memes. O auge passou, os heróis mais carismáticos já se aposentaram (ou, vamos ser sinceros, morreram dramaticamente), e até a bilheteria anda dando sinais de fadiga, como um tio depois da feijoada de domingo. É nesse clima de ressaca que surge “Thunderbolts”, um filme que, em vez de esconder o cansaço, o transforma em piada. Mas, como dizia o poeta, “fazer sátira do buraco em que você mesmo se enfiou pode ser engraçado, mas raramente é heroico”. O filme é uma confissão da Marvel: “Ok, a gente sabe que exagerou, mas por favor, não parem de nos amar”.
Quem São os Thunderbolts no UCM?
Diferente dos quadrinhos, onde os Thunderbolts eram vilões disfarçados de heróis para ganhar a confiança do público, o filme de Jake Schreier (de “Treta” e “Cidades de Papel”) traz uma nova interpretação para a equipe. Na trama, Valentina Allegra de Fontaine (Julia Louis-Dreyfus, que está deliciosa como sempre), decide fabricar um “Novo Vingador” obediente e, mais importante, vendável. Mas para isso, ela precisa limpar a sujeira de suas operações ilegais, eliminando as pontas soltas. É aí que entra o clube dos renegados: a equipe de “heróis” descartáveis da Marvel que ninguém levava a sério, mas que agora estão reunidos para provar que até as sobras do UCM ainda podem render uma trama.
A equipe é liderada por Yelena Belova (Florence Pugh), a sucessora de Natasha Romanoff, que já conquistou os fãs em “Viúva Negra” e “Gavião Arqueiro”. Ela é a âncora moral do filme, a única que parece ter um pingo de sanidade no meio de tanto caos. Ao seu lado, temos um elenco de peso, com nomes já conhecidos e que prometem uma dinâmica, no mínimo, curiosa:
Conheça os Membros da Equipe
- Yelena Belova (Florence Pugh): A protagonista moral da história. Yelena é a inteligência e o carisma da equipe. Se o filme não afunda de vez, é graças a ela. Pugh tem carisma para dar e vender e sustenta o filme mesmo quando o roteiro vacila.
- Bucky Barnes (Sebastian Stan): O eterno drama existencial. O Soldado Invernal até tenta ser a sombra do protagonista, mas fica no mesmo dilema de “quem sou eu, para onde vou, e por que essa perseguição está demorando tanto?”.
- Agente Americano (Wyatt Russell): O cara que tentou ser o Capitão América e falhou miseravelmente. Ele é a personificação do anti-herói que a gente ama odiar. A atuação de Russell é um dos pontos altos do filme.
- Guardião Vermelho (David Harbour): O pai adotivo da Yelena. Ele é a comicidade e o alívio para um filme que, em alguns momentos, se leva a sério demais.
- Fantasma (Hannah John-Kamen): A vilã que virou anti-heroína em “Homem-Formiga e a Vespa”. Sua presença na equipe adiciona uma dose de imprevisibilidade e perigo.
- Treinadora (Olga Kurylenko): A misteriosa vilã de “Viúva Negra” está de volta. Sua habilidade de copiar os movimentos de seus oponentes a torna um trunfo, mas a falta de desenvolvimento do personagem nos deixa querendo mais.
- Sentinela (Lewis Pullman): O Sentinela é o “Superman da Marvel”, um herói com poderes ilimitados, mas com uma história sombria. Sua presença na equipe eleva o nível de poder do grupo, mas também adiciona um fator de risco enorme, já que ele é uma bomba-relógio ambulante.
O Roteiro e a Falta de Ambição
O roteiro de Eric Pearson (“Thor: Ragnarok”) e Joanna Calo (“O Urso”) joga limpo: o UCM está velho, cansado e cinzento. O truque é assumir isso na cara dura, transformando o longa em uma espécie de ensaio metalinguístico sobre o desgaste do gênero. O dilema é claro: “Thunderbolts” quer ser autocrítico e moderno, mas soa, às vezes, como uma terapia de grupo da Marvel tentando se perdoar pelos últimos fracassos. O dilema é claro: “Thunderbolts” quer ser autocrítico e moderno, mas soa, às vezes, como uma terapia de grupo da Marvel tentando se perdoar pelos últimos fracassos.
O filme até tenta repetir a fórmula de “Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo”: personagens perdidos no niilismo encontrando propósito na comunidade. Mas, enquanto os Daniels (os diretores) entregaram poesia multiversal, “Thunderbolts” serve a versão micro-ondas. A comparação é cruel e só reforça o que já sabemos: a Marvel quer parecer ousada, mas continua refém da fórmula. As reviravoltas são previsíveis e os diálogos, em alguns momentos, insultam a inteligência do público, o que cria um cabo de guerra constante com a simpatia conquistada por seus atores. Mais do que caçar e conquistar vilões, o maior desafio do elenco é batalhar com clichês vazios e diálogos robóticos sem pé nem cabeça.
Direção e Fotografia: Um Mar de Tons Cinzentos
O diretor Jake Schreier é mais um soldado obediente de Kevin Feige (presidente da Marvel Studios): cumpre ordens, entrega o produto e some nos créditos. Não há impulso estético, não há assinatura. A fotografia de Andrew Droz Palermo (“O Cavaleiro Verde”) insiste nos cinzas que já viraram marca registrada do UCM cansado. As cenas de ação, editadas no piloto automático, passam sem impacto. Até a trilha sonora de Son Lux (que brilhou em “Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo”) fica perdida tentando dar peso a imagens que não sustentam gravidade alguma. É um filme feito para ser esquecido, e a ausência de uma identidade visual forte só ajuda nesse processo.
O Veredito: Um Filme Curioso, mas Não Essencial
No fim das contas, o que “Thunderbolts” faz é admitir: “a saturação era inevitável, não é culpa nossa”. Só que é, sim. O UCM construiu a máquina que espremia cada centavo de seus heróis e agora tenta rir do resultado para não chorar na bilheteria. É engraçado em alguns momentos, relevante em outros, mas nunca essencial. Parece mais um ensaio de expiação do que um filme que de fato queira reinventar o gênero.
O filme funcionou como uma sátira tímida, não como um blockbuster memorável. Se a Marvel queria rir de si mesma, conseguiu. Se queria salvar o gênero, vai precisar de muito mais do que uma piada interna. O filme equilibra bem seus defeitos com suas qualidades. Tão bem, na verdade, que decepciona pelo que poderia ter sido. Não há nada de errado em um filme mediano, mas com a riqueza humana do elenco, a sequência precisava apenas tentar ser melhor.
Onde Assistir “Thunderbolts” (2024)?
Para quem não assistiu ou quer rever, o filme está disponível na casa da Marvel no streaming: Disney+