A Netflix lançou no dia 20 de agosto a minissérie brasileira Pssica, e se tem uma coisa que chamou atenção desde o primeiro teaser foi o nome peculiar da produção. Afinal, o que significa “pssica”?
Pra quem não é do Norte do Brasil, a palavra pode soar como um sussurro estranho, um som que escapa da boca e se mistura com o vento. Mas, para os paraenses, “pssica” é uma gíria regional poderosa — e sua escolha como título da série está longe de ser gratuita.
O que significa “pssica”?
No cotidiano do Pará, “pssica” é uma expressão carregada de peso emocional.
Usada em situações de azar, desgraça ou quando uma maré de problemas parece inevitável, ela define aquele momento em que tudo começa a dar errado — e você sente que uma força invisível está puxando você pra baixo.
“Isso é pssica.”
“Tô com uma pssica.”
“Desde ontem é só pssica atrás de pssica.”
Não é só uma palavra.
É um estado de espírito.
Uma maldição cotidiana.
Uma forma de dar nome àquilo que não se explica — mas que se sente.
Pssica na série: mais que uma gíria, uma presença
Na série criada por Valentina Castello Branco e produzida por Rodrigo Teixeira, Pssica ganha outro nível. Ela deixa de ser apenas uma expressão do povo e se torna uma entidade narrativa.
É como se a “pssica” fosse uma presença invisível que assombra os personagens principais — especialmente Janalice (interpretada por Domithila Cattete) — influenciando suas decisões, seus caminhos e seus destinos trágicos. Não à toa, a série brinca com a ideia do realismo mágico amazônico, onde o misticismo se entrelaça com a miséria, a violência e o cotidiano urbano-fluvial de Belém.
Pssica é a sombra que caminha ao lado dos personagens. Às vezes, ela está dentro deles. Outras vezes, pairando sobre suas casas, seus corpos, suas escolhas.
A força da linguagem regional
Escolher uma gíria tão específica e geograficamente localizada como título já é, por si só, um ato de resistência cultural.
A série abraça o vocabulário do Norte, não tenta “traduzir para o sudeste” nem suavizar o sotaque. E isso é um mérito.
Numa indústria em que a maior parte da produção brasileira ainda gira em torno do eixo Rio-SP, Pssicaabre espaço para o Pará, para os rostos, vozes, expressões e dores de uma região pouco representada — mesmo tendo uma riqueza imagética e narrativa imensa.
O que esperar da série?
Com roteiro baseado no livro homônimo de Edyr Augusto, a série mergulha em temas pesados e urgentes:
Exploração sexual de menores
Tráfico humano
Violência urbana
Corrupção policial
Miséria e desigualdade
Crenças e lendas amazônicas
Tudo isso ambientado em uma Belém intensa, úmida, vibrante e decadente, com cenas filmadas tanto no centro urbano quanto nos rios e comunidades fluviais.
O resultado é uma narrativa crua e visceral, que lembra as produções de José Padilha ou Fernando Meirelles, mas com um toque mais onírico — quase espectral.
Por que o nome importa (e por que você não vai esquecer)
Pense em Pssica como uma palavra que funciona como feitiço.
Você pode não conhecê-la, mas ela gruda no ouvido, reverbera.
Ela tem som de água correndo, de mosquito zunindo, de algo mal resolvido.
Ao assistir à série, você entende que não se trata só de azar.
Pssica é o nome que se dá àquilo que persegue — e não te larga.
É o eco da dor.
É o trauma enraizado.
É o ciclo que nunca se quebra.
É o Brasil invisível que vive debaixo do radar.
Um título que já diz tudo
Ao escolher uma gíria como título, a Netflix não está apenas apostando no exótico ou no diferencial regional. Está fazendo um gesto político e narrativo. Está dizendo: essa história é nossa. É do Brasil profundo. E você vai ter que aprender a nomear as dores como elas são sentidas por quem vive com elas.
Pssica pode até soar estranha no começo. Mas depois de assistir à série, é difícil imaginar outro nome que traduza tão bem o que você vai sentir nos episódios.
Se você ainda não começou a assistir Pssica, comece.
Não só porque é uma das estreias mais impactantes do ano, mas porque ela te desafia a ver, sentir e entender o Brasil para além do clichê.
E se alguém te perguntar “que raios quer dizer esse nome?”, agora você já sabe:
pssica é o que te persegue.
E talvez, depois de ver a série, não saia mais de você também.