Ladrões: Darren Aronofsky finalmente relaxa… mas será que a gente relaxa junto?

Darren Aronofsky nunca foi exatamente um cara que passa despercebido. Se você é fã de cinema, já deve ter visto discussões acaloradas sobre ele em grupos de WhatsApp, threads do X (Twitter) e até em mesas de bar. É um diretor que construiu a carreira no limite: entre a genialidade e a pretensão, entre a catarse e o cansaço.

Agora, com “Ladrões”, Aronofsky parece ter resolvido brincar no parquinho da ação com pitadas de comédia. Mas a pergunta é inevitável: isso é libertador ou só um desvio de rota de um cineasta que não sabe mais quem é?

Spoiler: depende do quanto você gosta de ver Austin Butler tropeçando entre mafiosos e gatos perdidos.


O que é o filme Ladrões?

“Ladrões” conta a história de Hank (Austin Butler), um ex-promessa do beisebol que hoje vive de goró e de servir drinques. Sua vida medíocre ganha uma pitada de adrenalina quando o vizinho (Matt Smith) pede que ele cuide de um gato. Parece premissa de comédia leve, né? Só que mafiosos entram na jogada, e de repente Hank está atolado até o pescoço em dívidas, perseguições e violência gratuita.

Aronofsky até tenta evitar seus devaneios filosóficos habituais (dessa vez não tem ninguém chorando em slow motion ao som de cordas dramáticas), mas a sombra do diretor ainda paira em cada cena. É como se ele dissesse: “Eu posso ser divertido, mas não consigo evitar uma piscadela pseudo-profunda no meio do caos.”


Darren Aronofsky está em crise de identidade?

Depois de uma sequência de filmes que dividiram plateias — de “Cisne Negro” (obra-prima ou histeria com sapatilhas?) até “A Baleia” (Oscar para Brendan Fraser, mas também reclamações de exploração da obesidade) — Aronofsky decidiu virar a chave.

Só que aqui ele parece ainda estar testando o terreno. “Ladrões” não é tão ousado quanto “Réquiem para um Sonho”, nem tão irritante quanto “Mãe!”. É um meio-termo curioso: Aronofsky flertando com Guy Ritchie, mas sem a malandragem britânica.

É como se o diretor tivesse tirado férias em Nova York de 1998, ligado o rádio em uma fita cassete de Shane Black e pensado: “Por que não?”


Austin Butler: bibelô, ídolo e trapalhão

Se Aronofsky está em crise de identidade, Austin Butler não está muito atrás. Depois de ser Elvis e um vilão grotesco em Duna 2, aqui ele interpreta um bartender que não sabe se é herói de ação, vítima azarada ou piada ambulante.

Quando Butler abraça a comédia involuntária, o filme funciona. Ele tropeça, erra planos, apanha feio, mas insiste. O problema é quando o roteiro tenta impor um drama pesado de passado traumático. Aí a coisa descarrila, virando aquele tipo de clichê digno de filme de esporte vespertino na TV aberta.

Se Aronofsky tivesse coragem de assumir Butler só como um “perdedor carismático”, “Ladrões” poderia ser muito mais redondo.


Vilões: de Bad Bunny a D’Onofrio

Aqui a coisa fica divertida. Bad Bunny, creditado pelo nome de batismo Benitez Martínez Ocasio, parece que caiu no set errado e achou que estava filmando uma comédia do Adam Sandler. Funciona? De forma bizarra, até funciona, justamente porque destoa do tom.

Vincent D’Onofrio e Liev Schreiber, como mafiosos judeus, entregam a seriedade que Butler não tem. São eles que trazem a sensação de ameaça real no meio da bagunça. É aquele tempero que dá gosto ao caldo, mas que o cozinheiro (Aronofsky) ainda não sabe equilibrar.


Nova York de 1998: cenário ou enfeite?

A escolha temporal do filme é esquisita. Situar a trama em Nova York pré-11 de setembro poderia render camadas sociais e políticas — afinal, era a época da gentrificação sob Giuliani, da violência policial, de um caldeirão cultural fervendo.

Só que tudo isso fica na periferia da história, como se Aronofsky tivesse preguiça de se aprofundar. Há menções, há sujeira nas ruas, há diálogos sobre especulação imobiliária. Mas no fim, é apenas um recurso para complicar a vida do protagonista.

É cenário de papelão: bonito de longe, mas oco de perto.


Estilo Aronofsky: entre drones e gracinha nos créditos

Uma coisa é certa: o cara sabe filmar. O plano de ação com drone em meio a prédios de tijolos e escadas lembra até Amor, Sublime Amor. Aronofsky mostra que ainda tem olho para imagens poderosas.

Mas aí, do nada, coloca uma piadinha nos créditos finais. É estranho? É. Funciona? Surpreendentemente, até funciona. Parece que ele está tentando rir de si mesmo — e, sejamos honestos, depois de “Mãe!”, ele precisava.


Por que Ladrões divide opiniões?

  • Quem vai amar:

    • Fãs de Austin Butler, mesmo tropeçando.

    • Quem sempre quis ver Aronofsky fazer algo mais leve.

    • Quem curte uma mistura meio tosca de comédia com ação.

  • Quem vai odiar:

    • Os que esperam profundidade psicológica (spoiler: não tem).

    • Quem acha que Bad Bunny já é exagero suficiente no mundo da música.

    • Quem considera “Cisne Negro” uma obra-prima intocável e não tolera ver o diretor “fazendo gracinha”.


O veredito

“Ladrões” não é o melhor filme de Darren Aronofsky, mas é o mais humano que ele já fez.
Talvez porque, pela primeira vez, ele parou de se levar tão a sério.

O resultado? Um filme desengonçado, mas simpático. Um Aronofsky que ainda não sabe se é Guy Ritchie ou Shane Black, mas que pelo menos teve coragem de tirar a fantasia de “profeta do cinema psicológico” e tentar algo diferente.

Se vai ser lembrado como obra-prima ou como deslize, só o tempo dirá. Mas uma coisa é certa: ninguém vai sair indiferente.

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