Franquias de terror são como ex tóxico: sempre dizem “é a última vez”, mas você sabe que vão voltar. Com Invocação do Mal: O Último Ritual (The Conjuring: The Last Rites, 2025), a Warner vendeu a ideia de encerramento da saga dos Warren, mas basta olhar para a bilheteria e para a fome de spin-offs do estúdio para desconfiar. “Último” aqui soa mais como “até logo” do que como ponto final.
A direção: Michael Chaves ainda no piloto automático
A tarefa de fechar (ou fingir fechar) a franquia ficou novamente com Michael Chaves — o mesmo que entregou o fiasco A Maldição da Chorona (2019) e o insosso A Ordem do Demônio (2021). Ver sua “evolução” é quase engraçado: ele melhora, mas continua a anos-luz do que James Wan fez nos dois primeiros capítulos.
Wan pode não ser Kubrick, mas é mestre em jump scares. Chaves tenta seguir o mesmo caminho, mas seus sustos parecem reciclados de vídeos de pegadinha no YouTube.
A trama: aposentadoria interrompida
Aqui, temos Judy, filha de Ed (Patrick Wilson) e Lorraine Warren (Vera Farmiga), que tem uma premonição. Isso basta para tirar os pais da aposentadoria e colocá-los em “um último caso”. A partir daí, a estrutura é a de sempre: casa estranha, possessão suspeita, padres confusos e a eterna batalha entre fé e trevas.
Funciona? Funciona no básico. Mas não há nada realmente memorável além do conforto de estar de volta com personagens que os fãs já conhecem.
Sustos: até a plateia assusta mais
O filme até entrega dois bons momentos de tensão. Em um deles, segundo relatos de sala, teve gente que gritou tão alto que assustou o público mais do que a própria cena. Ou seja: o maior susto veio da plateia, não da direção.
O problema é que o medo evapora rápido. Depois do segundo ato, o terror perde ritmo, e o “medo” se transforma em expectativa burocrática: você sabe que vai ter barulho repentino, só não sabe de onde vem.
O problema dos coadjuvantes
Os dois primeiros filmes de Invocação do Mal funcionavam porque, além dos Warren, davam atenção a personagens menores. Aqui, os coadjuvantes são tratados como figurantes de luxo: estão ali só para servir de escada, sem desenvolvimento, sem chance de prender a empatia do público.
Isso pesa, porque quando o roteiro decide que um deles corre risco, o impacto é zero.
O Último Ritual tem cara de despedida
O final é quase novela global: tem casamento, clima festivo, participações especiais de personagens antigos e até uma ponta de James Wan, em clima de celebração. Soa como fechamento, mas também como teaser para possíveis reboots ou spin-offs. Afinal, terror nunca morre.
Quem vai gostar e quem vai odiar
Vai curtir:
Fãs fiéis dos Warren e do universo Conjuring.
Quem só quer mais uma dose de jump scares no cinema.
Quem não se importa com clichês, desde que tenha atmosfera sombria.
Vai odiar:
Quem espera inovação.
Quem ainda compara tudo com os dois primeiros filmes.
Quem acha que terror precisa provocar medo de verdade (spoiler: aqui não provoca).
O veredito
Invocação do Mal: O Último Ritual não é o pior da franquia, mas também não chega perto do impacto dos dois primeiros. É competente, mas previsível. Michael Chaves prova novamente que consegue pilotar a máquina, mas sem a inspiração de James Wan, tudo parece mais burocrático que assustador.
Se for realmente a despedida, é um adeus morno.
Se for só mais uma pausa antes do próximo spin-off, é um lembrete de que até o terror precisa descansar — nem que seja por alguns anos.