Invasão de Lua de Mel: quando a Netflix confunde farra francesa com terapia de família mal resolvida

O cinema já nos ensinou que casamentos podem ser caóticos — mas poucos filmes conseguiram transformar esse caos em algo tão desconfortável quanto Invasão de Lua de Mel (Honeymoon Crasher). A premissa parece saída de uma aposta bêbada entre roteiristas: “E se um filho levasse a mãe para a lua de mel e eles fingissem ser um casal?” Soa perturbador? Soa engraçado? Na prática, não é nem uma coisa, nem outra.


A trama: um altar, um fora e uma passagem sem reembolso

Lucas (Julien Frison) é abandonado no altar quando Elodie (Clara Joly) resolve fugir com o ex — detalhe: no meio da cerimônia, atendendo uma ligação no celular. (Sim, em plena igreja. Sim, ele ainda ficou surpreso.) Resultado: além da humilhação pública, sobra para Lucas um pacote caríssimo de lua de mel em Mauritius, sem direito a estorno.

Entra em cena Lily (Michele Laroque), a mãe superprotetora que, em vez de abraçar o filho e dizer “vai passar”, decide: “Bora comigo curtir essa viagem, filhão.” E ele aceita, porque o roteiro precisa.


Do romance ao cringe: mãe e filho, “casal” por engano

Chegando no resort, todo mundo assume que Lily e Lucas são recém-casados. O gerente (Rossy de Palma, a única que parece saber que está num filme de farsa) insiste em tratá-los como casal apaixonado, e, por alguma razão que o roteiro nunca explica, os dois simplesmente decidem sustentar a mentira.

E aí começa a avalanche de piadas prontas: quarto com uma cama só, atividades românticas forçadas, dança de casal, tudo temperado com diálogos que parecem escritos no guardanapo de um bar de praia.


Humor: versão reciclada de piada de banheiro

O problema não é só a premissa desconfortável. É que o humor é preguiçoso:

  • piada da cama de casal ✔️

  • diarreia pós-buffet ✔️

  • sanguessugas + xixi como “antídoto” ✔️

  • macaquinho ladrão de celular e papel higiênico ✔️

O filme tenta brincar com o constrangimento, mas só consegue repetir os clichês mais desgastados possíveis, sem timing, sem exagero, sem coragem.


Quem salva (um pouco) do naufrágio

  • Margot Bancilhon, como a guia turística Maya, é a única personagem com carisma e sanidade.

  • Rossy de Palma, como a gerente insana, ao menos entrega uma caricatura divertida.

  • Gilbert Melki, como o velhinho galanteador que se interessa por Lily, aparece pouco, mas lembra que existe vida fora do embaraço de Lucas.

O resto do elenco parece confinado num manual de “comédia para streaming” — personagens descartáveis que entram, fazem uma gracinha sem graça e desaparecem.


Quem vai rir e quem vai sofrer com Invasão de Lua de Mel

  • Vai curtir:

    • Quem topa qualquer comédia constrangedora para encher o catálogo da Netflix.

    • Quem gosta de Rossy de Palma exagerando sem limites.

    • Quem não se importa em assistir um roteiro que parece uma colagem de outras comédias ruins.

  • Vai odiar:

    • Quem espera humor criativo (não tem).

    • Quem se incomoda com piadas de banheiro.

    • Quem não consegue desligar a mente do “fator Freud”.


O veredito

Invasão de Lua de Mel tinha tudo para ser uma farsa divertida, mas cai na armadilha de querer ser tudo ao mesmo tempo: tabu, sátira, comédia leve e drama familiar. No fim, não é nada disso.

É o tipo de filme que a Netflix solta para encher grade, mas que você termina pensando: “eu podia ter revisto Qualquer Gato Vira-Lata e teria rido mais.”

Se você quer uma comédia realmente ácida, passe longe. Se quiser passar vergonha alheia, pode até dar play — mas não diga que eu não avisei.

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