Já parou pra pensar quantas histórias moram no mesmo prédio que você? Em Edifício Master, documentário de Eduardo Coutinho que agora está disponível na Netflix, cada porta guarda uma vida – e todas elas têm algo a dizer. Filmado em 2002, no coração de Copacabana, o filme é um mergulho íntimo e sensível em um Brasil que continua atual, contraditório e absurdamente humano.
Um prédio, 276 apartamentos e mais de 500 vidas
Durante sete dias, Coutinho e sua equipe ocuparam o famoso edifício na Avenida Atlântica. Ali, conversaram com 37 moradores, cada um com uma história marcada por desejos, traumas, recomeços e memórias difíceis de esquecer. Não há narração, não há trilha manipuladora – só vozes reais que nos convidam a ouvir.
É nesse cenário que conhecemos o Henrique, aposentado que canta My Way como se fosse sua oração. Ou a Suze, cheia de leveza ao contar suas aventuras no Japão. Também tem Daniela, que evita contato visual, mas se entrega ao microfone com coragem. E Paulo, ex-atleta que lamenta ter perdido a chance de cantar para Frank Sinatra. Cada relato revela algo único, mas também universal: todo mundo tem uma história que precisa ser contada.
O estilo Coutinho de fazer documentário
Coutinho não entrevistava – ele escutava. E fazia isso como ninguém. Com uma câmera parada e um olhar atento, ele deixava que os silêncios falassem tanto quanto as palavras. Nada de perguntas invasivas ou roteiros fechados. Tudo acontecia no ritmo de quem vivia ali. Por isso, Edifício Master é tão autêntico: ele não impõe um ponto de vista, mas convida o público a enxergar além das aparências.
O prédio vira personagem. Os corredores, os sons de fundo, o interfone que toca durante as conversas – tudo isso compõe o ambiente que, mais do que cenário, é parte da narrativa. E talvez seja justamente essa simplicidade que torna o documentário tão impactante.
Por que assistir hoje?
Mais de 20 anos depois, Edifício Master continua atual. Num mundo onde vizinhos mal se cumprimentam, ouvir histórias de quem vive ao nosso lado é quase um ato revolucionário. Além disso, o documentário mostra um Brasil sem filtros: sem estereótipos, sem caricaturas. Só gente real.
Também vale lembrar: o filme foi eleito um dos 100 melhores filmes brasileiros pela Abraccine, ocupando o 3º lugar entre os documentários da lista. E venceu prêmios importantes em Gramado, Havana e São Paulo. Não à toa, é considerado uma das maiores obras do cinema nacional.
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Edifício Master é sobre ouvir, mas também sobre enxergar. E aí, pronto pra bater na porta de vidas que poderiam ser a sua?
