Quando Pânico ressuscitou o slasher em 1996 com metalinguagem, humor ácido e sangue novo, abriu-se um novo capítulo para o terror adolescente. Logo depois, Eu Sei O Que Vocês Fizeram no Verão Passado pegou carona no hype e trouxe um pescador com gancho assassino que traumatizou uma geração.
Avançamos quase três décadas e… olha quem voltou do fundo do mar.
Agora, com o criativo nome de Eu Sei O Que Vocês Fizeram no Verão Passado (de novo), a franquia retorna tentando repetir a velha fórmula: jovens bonitos, erro coletivo, cartas ameaçadoras, mortes criativas e um assassino mascarado — ou melhor, encapuzado e molhado.
A pergunta que fica: funciona?
A resposta honesta: funciona sim — desde que você desligue o bom-senso e ligue o modo diversão.
🪦 Clonagem narrativamente autorizada
Não há nada de inovador aqui. O roteiro bebe direto da fonte de 1997 — talvez até com o mesmo canudo. Grupo de jovens com segredos. Um acidente. Um pacto de silêncio. E um assassino que aparece um ano depois para cobrar a conta.
A diferença? Agora tudo é feito com uma mistura de descompromisso e autorreferência. A trama até tenta fingir que é séria em alguns momentos, mas rapidamente se lembra de que está num slasher pós-ironia. E volta a brincar com o absurdo.
E tá tudo bem.
O filme abraça o ridículo com alegria, como quem foi pra uma festa à fantasia e se recusa a tirar a peruca mesmo quando todo mundo já foi embora.
🏙️ Gentrificação e gancho: a crítica social que mal entra, mas tá lá
Em algum momento, o roteiro ensaia uma crítica sobre gentrificação e especulação imobiliária: os assassinatos de 1997 derrubaram os preços das casas, e agora magnatas oportunistas querem apagar o passado e lucrar em cima. Uma boa ideia.
Mas calma.
Antes que você ache que o filme vai virar uma versão slasher de Parasita, ele desiste da profundidade e volta pro que interessa: cenas bizarras, sustos coreografados e reviravoltas nonsense.
A crítica social existe, mas tá ali só pra marcar presença — como aquele amigo que vai no rolê, mas fica no canto mexendo no celular.
🧠 Galhofa assumida é sempre bem-vinda
Ao contrário dos filmes originais, que tentavam equilibrar cafonice com uma trama “quase plausível”, esse novo Eu Sei não está preocupado em parecer inteligente. E é exatamente por isso que ele é divertido.
As decisões dos personagens são absurdas. O romance principal tem a profundidade de um pires. Cenas surgem e desaparecem com personagens que nem são mais lembrados. E tudo isso compõe um cenário que faz sentido… dentro do próprio caos.
Se você entendeu a proposta, o filme entrega exatamente o que promete: mortes estilosas, humor ácido e nostalgia com cara de TikTok.
🧛♀️ Fã service que não cansa
A cereja do bolo é a participação de Sarah Michelle Gellar (sim, ELA). Não é só uma foto no mural ou uma citação forçada. Ela aparece mesmo, numa sequência de pesadelo estranhamente cômica que é puro presente pra quem viveu os anos 90 com sangue nos olhos.
O filme ainda esconde outras referências mais discretas, como o barco de Ray (Freddie Prinze Jr.) servindo de decoração de bar, ou o nome do diretor original, Jim Gillespie, sendo citado aleatoriamente por um personagem.
É aquele tipo de carinho que só um fã roteirista sabe entregar.
🙃 Plot twist no grito
O melhor de qualquer slasher? Tentar adivinhar quem tá por trás da máscara (ou do gancho).
E aqui o filme faz questão de te enganar.
A narrativa joga luz sobre um personagem religioso misterioso (em um claro aceno a Donnie Darko), mas no fim revela que o assassino era alguém muito mais próximo — Stevie, que até surpreende, mas não tanto quanto Ray, o namorado do filme original, que agora também entra no modo “vamos matar geral”.
Esse segundo twist, sim, parece um delírio de roteiro feito às 3h da manhã com pizza fria e Coca quente. Mas sabe o que mais? É isso que mantém o gênero vivo.
📱 Celulares: o inimigo natural do slasher
Vamos falar de um problema real.
Filmes de terror ainda não sabem o que fazer com smartphones.
É frustrante ver personagens que claramente têm um iPhone no bolso ignorarem completamente a existência de GPS, chamadas de emergência ou mesmo o básico: “gravar isso aqui e mandar no grupo da faculdade”.
Eu Sei tenta driblar isso com algumas licenças poéticas, mas é difícil não perceber que estamos em 2025 e os personagens ainda agem como se vivessem em 1997.
🎬 Veredito final
O novo Eu Sei O Que Vocês Fizeram no Verão Passadonão é um filme brilhante, nem tenta ser.
Mas é divertido, autoconsciente e bem mais honesto com seu legado do que muito reboot por aí.
Tem problemas? Claro.
Mas também tem alma, tem timing cômico e tem uma protagonista carismática o bastante pra você querer ver o que acontece com ela na próxima sequência (que já está sendo escrita, você sabe).
A diretora Jennifer Kaytin Robinson acerta ao não levar tudo a sério e construir um universo onde o exagero é regra. Que venha Eu Sei 2 (ou seja lá o nome criativo que inventarem), com mais sangue, mais Stevie e mais participações especiais tiradas do fundo do VHS.
Nota AhShow: 3,5/5 — Com mais ganchos que profundidade, mas também com mais estilo do que a gente esperava.
🍿 Assista sem culpa. E se rir, é porque entendeu tudo.