Stephen King é conhecido por nos assustar com palhaços, fantasmas e maldições, mas em A Vida de Chuck o mestre do terror empresta sua caneta a algo mais humano, otimista e melancólico. O conto, publicado no livro Com Sangue (2020), ganhou uma adaptação para o cinema dirigida por Mike Flanagan, criador de A Maldição da Residência Hill e Missa da Meia-Noite.
O resultado? Um filme delicado, cheio de música, dança e reflexões sobre a vida — com menos monstros e mais humanidade. E mesmo que peque no excesso de narrações, a obra emocionou plateias ao redor do mundo, vencendo o Prêmio do Público no Festival de Toronto 2024 e já sendo cotada para o Oscar.
Sinopse
Assim como no conto original, A Vida de Chuck é dividido em três atos em ordem cronológica inversa:
O fim do mundo: acompanhamos um professor apático (Chiwetel Ejiofor) diante do colapso da humanidade, intrigado por propagandas misteriosas agradecendo a um tal “Chuck” por 39 ótimos anos.
A vida adulta de Chuck: vemos um contador de meia-idade (Tom Hiddleston) vivendo uma existência aparentemente comum, marcada por momentos triviais e um surpreendente número musical.
A juventude: acompanhamos Chuck criança e adolescente, interpretado por três atores (incluindo Jacob Tremblay e Cody Flanagan), descobrindo os pequenos encantos e dores da vida.
O enigma do “agradecimento a Chuck” se conecta pouco a pouco, costurando um retrato sobre mortalidade, legado e a beleza das pequenas experiências humanas.
Review
Mike Flanagan deixa os sustos de lado e abraça o otimismo de Stephen King, mostrando que a vida é tão fascinante (e assustadora) quanto qualquer casa mal-assombrada. A força do filme está na ternura das atuações — especialmente Chiwetel Ejiofor, que entrega uma performance sensível e reflexiva.
No entanto, o diretor demonstra certo receio de se afastar demais do conto original. O resultado são narrações frequentes (na voz de Nick Offerman), que acabam travando a fluidez cinematográfica e caindo no “conte, não mostre”. São belas, mas às vezes excessivas, soando como leitura em voz alta do livro.
Mesmo com esse tropeço, o filme brilha nos momentos visuais: a sequência de dança de Tom Hiddleston e Annalise Basso é um dos pontos altos, mesclando musicalidade e emoção.
No saldo final, A Vida de Chuck se aproxima das melhores adaptações “não de terror” de King — como Um Sonho de Liberdade e Conte Comigo. É um filme que prefere emocionar em vez de assustar.
Elenco
Tom Hiddleston (Chuck adulto) – um contador comum cuja vida se revela extraordinária.
Chiwetel Ejiofor (professor) – a alma do primeiro ato, reflexivo diante do apocalipse.
Jacob Tremblay / Cody Flanagan (Chuck criança/adolescente) – retratam a juventude com delicadeza.
Karen Gillan – em papel marcante ligado ao luto e à resiliência.
Annalise Basso – brilha em uma cena musical com Hiddleston.
Nick Offerman – a voz da narração onipresente, emprestando charme, ainda que em excesso.
Veredicto
A Vida de Chuck é uma das adaptações mais ternas de Stephen King nos últimos anos. Ao trocar o terror por humanidade, Mike Flanagan entrega um filme que fala de vida, morte, legado e otimismo.
É verdade que o excesso de narrações enfraquece a experiência, mas a força do elenco e a beleza do conto original garantem momentos de pura emoção. Para fãs de King, é uma prova de que seu talento vai além do horror. Para cinéfilos em geral, é um lembrete de que às vezes as histórias mais extraordinárias estão nos detalhes cotidianos.